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POR QUE VOCE CORRE SEMPRE NO ASFALTO? POIS NÃO DEVERIA.
Fala Manocchio > Coluna Quinzenal por Guilherme Manocchio:
Minha coluna hoje será auto explicativa. Tem uma questão importante aqui: por que você corre sempre no asfalto?
A maior parte das pessoas que pensa em correr, já se imagina correndo em um local asfaltado, principalmente quem está começando a correr. Contudo, devia ser justamente o contrário! Esse fato é de arrepiar e vou explicar o porque. E sim, eu me incluía entre essas pessoas.
Por que evitar correr no chão batido, grama, areia e cascalhos? Será por gostar do asfalto? Ou por receio de sujar o tênis? Ou então por não saber do benefício da corrida OFFROAD? Eu imagino que seria talvez pelo receio de parecer diferente da média, talvez. Afinal, poucos optam por se afastar da marcação dos parques e praças.
Eu consigo pensar em quatro fatores que merecem a atenção aqui, para provar um ponto de vista.
1. EVITE ASFALTO COMO UM PROFISSIONAL
Os corredores de elite evitam o pavimento como uma praga, porque é materialmente duro e duro para o corpo. Os corredores profissionais devem rotineiramente registrar mais de 100 milhas por semana. Isso é muita dor e impacto em pernas com muitas quilometragens. Ao percorrer o máximo possível dessas milhas em superfícies ligeiramente mais macias, como terra, lascas de madeira e grama, esses corredores são capazes de absorver o impacto com um pouco menos de desgaste nos músculos, ossos e articulações. (FITZGERALD, 2014). Existem estudos que comprovam que correr dessa forma aumentaria em quase 30% a capacidade do organismo suportar volume de treino. E olhe, 30% é muito!
2. FORTALEÇA-SE POR INTEIRO
Outra vantagem de correr longe do asfalto, complementa FITZGERALD, é que forçaria o corredor a variar mais o passo. “A corrida em trilha tende a ser mais íngreme, a exigir mais mudanças de direções e movimentação lateral, exigindo maior variação no comprimento da passada e na ação do pé para evitar obstáculos e manter a tração. Alguns especialistas em biomecânica de corrida acreditam que tais variações aceleram o processo pelo qual a passada se torna mais eficiente à medida que o cérebro aprende novas maneiras de envolver os músculos.” Fato: corredores de elite correm em estrada de chão, grama e areia em quase todos os treinos. Observe qualquer vídeo dos corredores africanos treinando. Qualquer.
3. SEJA NATURAL
Na realidade nascemos com a fisionomia e fisiologia propícias para correr na natureza. Na natureza, na superfície da Terra primitiva, não existia asfalto. Isso é invenção do homem, sendo as superfícies mais rígidas como rochas uma parcela pequena do que costumávamos enfrentar no dia-a-dia na nossa progressão humana. Como diz no livro “BORN TO RUN, Christopher McDougall 2010, “ somos literalmente nascidos para correr. Nosso corpo possui adaptações que permite que corramos vários quilômetros sem qualquer problema. O livro narra muito bem a técnica de corrida dos integrantes da tribo dos Tarahumaras que corriam por horas e horas, em dias consecutivos, sem necessidade de parar por dano muscular. Mais importante que isso é frisar que eles corriam por terrenos escarpados, terreno realmente difícil, que estimulava um fortalecimento variado dos tendões, músculos e articulações. Uma frase marcante dizia mais ou menos assim: “Ao se deparar com um obstáculo, ao invés de dar dois grandes passos e ultrapassá-lo usando a força, eles davam três pequenos passos e com agilidade flutuavam com naturalidade pelas deformidades do terreno”.
4. SEJA MELHOR QUE A MÉDIA
Grande parte dos atletas começam correndo e treinam somente no asfalto. Grande parte deles também se machucam e não se desenvolvem por inteiro. Meu ponto de vista é criar condições para o corpo de forma natural para que a natureza humana se adapte com calma ao impacto e comece a percorrer as distâncias naturalmente e de forma consistente.
Ao iniciar com a corrida eu também procurava o comum. Hoje sei que o mais apropriado, às vezes, é o incomum. Embora seja bem claro que os atletas sérios optam pelo percurso “macio” ainda vejo resistência em muitas pessoas.
Já treinei e vivi com atletas de renome mundial e adivinhe? Eles treinam longe do asfalto. Também vivi um mês correndo pelas trilhas de Boulder, nos EUA, antes de ganhar o IM de Copenhagen. E também quem me conhece sempre me vê correndo na grama do Parque Barigui aqui em Curitiba. Quando posso, também corro pela areia da praia. Sei conscientemente da importância disso, assim como você também agora já sabe. E posso provar que inconscientemente você também sabe disso. É simples: tire o tênis e corra 200m . “Dói mais no asfalto e menos na grama, menos ainda na areia” você ira dizer. Pode até correr em sua mente e já sabe disso. Se estiver voltando de lesão, irá concordar comigo mesmo usando seu tênis!
A boa notícia é que para o sistema cardiorrespiratório é ao contrário. É mais cansativo correr no macio, pois o chão absorve grande parte da energia para a resposta muscular, e não só os tendões e articulações (validando o que disse antes).
Somos feitos para correr. Nascemos com uma engenhosidade tremenda de adaptação para corrida de longas distâncias tais como o tendão de Aquiles, a sudorese, nosso sistema nervoso central, adaptabilidade das articulações e a capacidade de correr longas distâncias sem precisar descansar. Temos energia, biótipo e disposição se quisermos. Basta ver os corredores de ultramaratona. Eles são humanos, como nós, conseguindo realizar feitos incríveis.
Gostaria de fazê-los pensar nisso, para que você também possa usufruir dos benefícios da corrida plenamente e isso inclui a corrida offroad. Por aqui, na Manocchio Sports, em junho e julho, criamos o desafio “Born to run“. Ele consiste em competições cross country espalhadas no decorrer do mês. Além disso, meu sistema de treinamento sempre insistirá na variabilidade do terreno. “trote na grama, corrida na areia, procure superfície macia, etc.”. Este é um fator comum nas nossas sessões de treino.
Cabe observar que entendo que a especificidade no treinamento é importante. Como as provas de corrida são no asfalto, na parte específica do treino há sim sessões que priorizam a resposta mais rápida das articulações (chão duro).
Você decide onde irá correr no seu próximo treino, mas era importante eu dizer isso. É bem simples: a cada tênis sujo, a cada treino no mato ou no chão batido, estaremos mais próximos da nossa natureza. Mais fortes e preparados também. E quanto mais volume no asfalto, ficaremos fortes, mas a probabilidade de machucar será maior.
Gostou do assunto? Complemente a leitura com o texto da Jane McGrath https://adventure.howstuffworks.com/outdoor-activities/triathlons/training/soft-surface-triathlon-run-training.htm