bike, ciclismo, Coach, corrida, planilha de treino, run, swim, Training, treinamento, triathlon, trilifestyle

LEIS COMPORTAMENTAIS DO TREINAMENTO FÍSICO

Como entender o treinamento?

Hoje falarei de leis que não costumam ser ditas no treinamento. Comportamentos são a essência do desenvolvimento humano. Aplicado ao esporte, são essenciais e condicionais para a correta evolução.

Os princípios do treinamento esportivo, por outro lado, já foram reforçados por diversos cientistas e treinadores. Individualidade biológica, especificidade, adaptação, sobrecarga, são princípios e são imprescindíveis. Existem outros ainda, mas não falarei deles agora, embora estejam implícitos nos comportamentos corretos.

Mas obedecer a esses princípios físicos não significa sucesso. Sucesso só se existir o comportamento correto. Por essa razão, acho esse tema ainda mais importante. Descrevi cinco leis que posso observar: ver a longo prazo, controlar apenas o que se pode controlar, libertar-se de julgamentos, deixar a natureza agir e cognitivamente usar a intenção em prol da evolução.

Leis que não costumam ser ditas no treinamento são essenciais para compreender o caminho completo para o sucesso.

  1. Ver a longo prazo

É como aprender uma habilidade complexa em um dia. Imagine completar algumas semanas de aulas de violino e querer se apresentar num concerto? Lógico que não será assim. Alguns atletas querem a glória imediata mesmo tendo pouca experiência.

Para orquestrar seu sucesso, você precisa praticar o esporte com esmero, conquistando cada “partitura-treino”, das mais fáceis até as mais difíceis. Quanto mais se dedicar e amar a atividade, mais rápido será seu desenvolvimento.

Lembre-se, porém, que ninguém tocará uma sinfonia antes de estar preparado e não chegará ao seu potencial atlético máximo sem a devida prática: em provas e treinos. Não desista jamais se possui esse desejo em você!

  1. Controlar apenas o que se pode controlar

Posso melhorar minhas habilidades, mas controlo somente o que acontece comigo. A preocupação com os outros contribui de forma significativa para o proveito (ou não) da atividade.

A sua esfera de controle vai até um certo ponto e até esse ponto deve ser o seu foco. Não adianta extrapolar para além disso, fisicamente ou psicologicamente. Não faz sentido. Antes, controle positivamente o seu microcosmos e assim o macrocosmos se modifica também.

Corra, nade ou pedale com total atenção à sua respiração, ao controle em suas passadas, ao ambiente em volta, ao piso, à chuva, até o cronômetro para seu proveito. Foco total: vivenciar cada segundo da sua atividade. Equilíbrio. Imersão plena.

  1. Libertar-se de julgamentos

É comum observar atletas altamente treinados e com alta cobrança pessoal. No momento que estão realizando sua performance, acham que deveriam estar mais rápidos ou se sentindo melhores e, por isso, deixam de ter o rendimento esperado.

Por outro lado, vejo atletas que estão menos treinados não se impondo a mesma sobrecarga emocional. Não se cobrando porque treinaram um pouco menos ou por algum outro motivo, deixaram de julgar a si mesmos.

Ao praticarem o esporte, então deleitam-se pelo prazer da atividade em si. E assim sendo, acabam obtendo excelentes resultados. Muitas vezes, inclusive, isso é o mesmo atleta em fases distintas. Observe:

“Puxa, eu nem estava treinando e fui super bem” ou “Puxa, eu treinei tanto e não consegui. Nada deu certo”. Percebida a diferença, fica fácil entender o poder do julgamento. Qual frase você gostaria de dizer na próxima prova?

  1. Deixar a natureza agir

Racionalmente controlo meus movimentos, mas as adaptações do corpo são internas e irracionais. Como um sono reparador após um dia de trabalho muito puxado. No sono não controlamos mais nada, mas ao mesmo tempo é neste momento que tudo se ajusta. Com as sobrecargas também é assim.

Provocamos as adaptações no nosso corpo, mas elas vão acontecer sozinhas, sem que precisemos “pensar” nisso. Controlamos o número de repetições de supino, mas não controlamos o quanto vai aumentar nosso volume muscular do peitoral, por exemplo. Essa adaptação acontecerá sozinha, quando estivermos repousando.

Não controlamos nossos batimentos cardíacos intencionalmente; eles correspondem com a demanda interna de nosso organismo e de acordo com a ação e envolvimento de mobilização de energia para determinada atividade.

Depois da atividade, o número de mitocôndrias, aperfeiçoamento do sistema aeróbico, muscular irá também acontecer naturalmente, entre outras adaptações. Treinar na zona correta é sua melhor chance de provocar as adaptações certeiras, na hora exata sem interferência negativa entre uma adaptação e outra. Por isso, atente-se:

Treinar é adquirir as condições necessárias para realizar atividades com grande potencial, com as adaptações internas acumuladas ao longo de um período, sobrepondo estímulos com o devido tempo de adaptações físicas e psicológicas entre elas.

  1. Cognitivamente usar a intenção em prol da evolução

Usamos apenas uma parcela de um potencial. Um potencial orgânico determinado e mental indeterminado. E quanto mais tivermos consciência de nosso corpo e de nossa intenção no espaço-tempo, nossa atuação será melhorada. Um assunto futuro seria o poder mental, a atração sincera e sem hesitação em um objetivo. A outra seria observar o seu corpo e o corrigir. Lembra do microcosmos no macrocosmos? Ao observar o que se passa dentro de nosso corpo: ligamentos, células, campos neurais, emoções e individualidade, você estabelecerá mais conexão. Disso resultará maior proeminência de sua potencialidade genética.

Se congelarmos o que se passa em um momento e pudéssemos conversar com a natureza da atividade, veríamos algo como:

(…) Decisão. A eletricidade neuromuscular pulsa; o ar entra veloz nos pulmões; O2xCO2 irriga suas células. As mitocôndrias disparam num brilho propulsor; músculos agora deslizam sobre músculos; hormônios disparam, o corpo está alerta. Tendões tracionam, coordenando o esqueleto ao mesmo tempo que uma sensação de prazer entra em movimento. Liberdade. (…)

Cada célula: sensitiva, dor, frio, contato, é coordenada numa ação sistêmica e responsiva para executar o movimento de ação neste exato segundo. Quando congelamos esse processo, a quantidade de detalhes assombra. A natureza é a perfeição em detalhes. Ao voltarmos para “velocidade normal”, aparecerá um movimento esportivo, mas poucos estão conscientes de todos esses detalhes. “Estava legal, mas acabei sentindo dor aqui no ombro” é um relato bastante comum na natação.

“Percebi meu dedo médio inclinado para fora e para cima no início da minha puxada, gerando arrasto desnecessário e meu ombro pesou, mas ao corrigir o dedo deslizei mais…”. Vejam que isso seria um atleta mais atento.

Saber observar e modificar o maior número desses detalhes (principalmente relacionados à musculatura e ação dos membros) impactará em um maior ganho de performance.

Existem aliados: a tecnologia, por exemplo. Existem cada vez mais dados para isso. Frequencímetros, número de braçadas por piscina, tempo cronometrado vs. esforço realizado, visualização, correções de treinadores, espelhamento, filmagens da biomecânica, etc.

Um exemplo sobre isso é a mensuração da pedalada através dos medidores de potência. Qual ângulo de sua aplicação de força? Qual eficiência de torque de cada uma das pernas? Existe simetria? Observar a pedalada da perna direita com relação à esquerda. Todos esses dados darão margem para que intencionalmente você possa passar novo estímulo cérebro-músculo e observar se há equilíbrio e que ações deverá executar na sequência.

Conclusão: Usando os princípios

Leis que não costumam ser ditas no treinamento são aplicáveis na vida esportiva e pessoal. Através de ações eficientes continuamente sobrepostas em estado de ampla consciência, você obterá a arte do autodomínio e eficácia. Trabalhar o autodomínio com objetivos claros, interagindo com o ambiente externo através das informações dos 5 sentidos e evitando quaisquer julgamentos, você viverá em estado de harmonia, paz e desenvolvimento.

O esporte proporciona isso de forma singular.

Guilherme Manocchio